Poema da independência
Oliveira Ribeiro Netto
O português veio de longe, de terras de alem- mar,
e trouxe uma cruz de sangue nas velas cor de luar.
Ele era velho, mas tinha a alma forte,
E várias vezes afrontara a morte,
Nas incursões dos mouros pelo seu país
Tinha no sangue a nobreza dos cavaleiros d’EL Rei Don Luiz.
O acaso o trouxe num veleiro,
E ele que sob a proteção dourada do cruzeiro
Uma cabocla vivia entre a folhagem,
Livre como o vento ou como o jaguar selvagem
Nas suas correrias pelo campo em fora,
Coroada de penas de tucano cor de aurora,
Os membros de bronze banhados de luz.
E ele via que a força do seu arcabuz
Era maior do que a flecha emplumada da aljava,
E por nos punhos morenos algemas de escrava.
E a cabocla, ao toque do boré,
Nas noites de luar não pode mais dançar a puracé,
E nem correr pelos bosques bravios,
Nem investir contra a fúria dos rios
Na piroga que ela governava..
O Branco dissera; Tu és minha escrava!
E o eco afirmará; escrava... escrava....
Para o português eram os melhores frutos que colhia,
As pepitas de ouro que ela descobria,
Toneladas sangrentas de pau-brasil,
Diamantes de luz e safiras de anil.
Para ele a beleza, a força, a agilidade;
A velhice dominando a mocidade.
Mas com os tempos o músculo de bronze cresceu a resistência,
Quebraram-se as cadeiras, raiara a independência!
A índia era livre, as terras de norte a sul
Eram dela! A Guanabara azul,
Os lençóis verdes dos pampas,
Os cafezais paulistas, as rampas
Recheadas de ouro das serras mineiras,
As praias do norte eriçadas de palmeiras,
Ondulações verdes de canaviais,
Quilômetros e quilômetros de cúpulas verde- amarelas de ipês e seringais,
Alvoradas vermelhas, tarde cheirando a flor,
Tudo era dela! A Liberdade!
O seu primeiro anseio de nacionalidade,
A Liberdade,o seu primeiro amor!
Suely Moreira